Cerca de 47% das mulheres no Brasil deixaram de marcar consultas com ginecologistas ou mastologistas em decorrência da pandemia de Covid-19. O resultado é da segunda edição da pesquisa Câncer de mama: tabu, falta de clareza sobre a doença, diagnóstico precoce e autocuidado, realizada de forma online entre os dias 7 e 23 de setembro de 2021, com a participação de 1.400 pessoas com pelo menos 20 anos das cidades de São Paulo, Belém, Brasília, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro. O trabalho foi conduzido pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) a pedido da farmacêutica Pfizer.
O primeiro levantamento sobre o tema, feito em 2020, mostrava que o índice de brasileiras que não estavam frequentando esses especialistas durante a pandemia chegou a 62%. Apesar da queda, o valor deste ano segue alto e representa quase metade das mulheres de um país que, conforme estimado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer), deve contabilizar 66 mil novos casos de câncer de mama por ano no período de 2020 a 2022. “Esse cenário ainda é preocupante”, afirma Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil. “Sabemos que a identificação precoce da doença é, muitas vezes, fundamental para o controle mais efetivo do câncer de mama.”
A pesquisa também revela que, embora haja uma parcela significativa das brasileiras que não está indo ao médico para rotina de detecção do tumor maligno, 42% mantiveram a frequência usual do acompanhamento profissional. Em 2020, o mesmo índice foi de 27%. Esse aumento é atribuído a dois fatores principais: o esclarecimento sobre as medidas de proteção eficazes em meio à crise sanitária e o início da imunização da população.
Consta ainda no levantamento que 80% das entrevistadas relataram aspectos emocionais ligados ao câncer de mama, sendo os tratamentos (34%), o medo (28%) e o sofrimento (18%) as preocupações iniciais. Por outro lado, os dados mostram que 80% sabem que alimentação balanceada e exercícios físicos são capazes de ajudar na prevenção da doença e que grande parte das mulheres acredita na cura por meio do acesso a tratamento médico. Do total, 54% afirmaram que é possível tratar e controlar a doença metastática — condição que pode atingir aproximadamente 30% das pacientes, de acordo com a organização norte-americana Breastcancer.org.
Na concepção de 14% das participantes, só há possibilidade de cura caso haja acesso a saúde privada e convênio médico. Para 16%, a cura pode ser viabilizada pelo suporte do SUS (Sistema Único de Saúde). Belém e Recife são os locais que mais têm confiança no tratamento do SUS, com índices de 19% e 20%, respectivamente. Os valores são mais baixos em São Paulo (16%), no Distrito Federal (16%) e no Rio de Janeiro (14%).
Diagnóstico precoce
Além disso, a pesquisa analisou o conhecimento das participantes sobre a descoberta da doença. Para 42% delas, o autoexame é suficiente para um diagnóstico precoce, já que permite a percepção de nódulos ou caroços nos seios. Especialistas, porém, alertam para a limitação da prática, que costuma identificar somente tumores com mais de 2 centímetros — o que implica que o câncer pode estar em um nível avançado quando notado pela paciente.
“Sabemos que houve, no passado, uma forte campanha sobre o autoexame. Não estamos descartando seu papel, mas é preciso que as pessoas tenham clareza de que ele não detecta tumores menores”, ressalta Alessandra Menezes Morelle, oncologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. “Daí a importância do acompanhamento médico e de exames complementares para que não haja comprometimento do tratamento se a condição for diagnosticada”, complementa.
Quando questionadas sobre o autoexame, 78% das entrevistadas afirmaram saber das limitações e que, por isso, contam com suporte ginecológico. Dessas, 40% realizam todos os exames solicitados e retornam para nova consulta, 30% fazem todos os exames pedidos regularmente e 8% seguem o mesmo caminho, mas não voltam ao médico se pensarem que estão saudáveis. De todas as participantes, 21% não estavam cientes do risco do autoexame apontar tumores em estágio avançado.
Também quanto ao diagnóstico precoce, 60% das mulheres sabem que a mamografia deve ser feita anualmente a partir dos 40 anos. Vale lembrar que, segundo o Inca, esse é o único método cuja aplicação em programas de rastreamento apresenta eficácia comprovada na redução da mortalidade por câncer de mama.