Mesmo sendo muito raros, cientistas investigam casos de pessoas que desenvolveram coágulos sanguíneos após se imunizanrem contra a Covid-19 com vacinas de adenovírus, como as AstraZeneca e da Janssen. Em um estudo publicado nesta quarta-feira (1º) no periódico Science Advances, pesquisadores acreditam ter desvendado o mecanismo responsável por esse efeito colateral.
A equipe internacional analisou a vacina da AstraZeneca para entender a relação entre os vetores adenovirais e os coágulos. Esses vetores são estruturas criadas a partir dos adenovírus, uma família viral associada ao resfriado comum.
Nas vacinas contra Covid-19 da AstraZeneca e da Janssen, por exemplo, o adenovírus é inativado para que não cause doença, mas ele ainda produz parte do código genético do Sars-CoV-2. Mais especificamente, o vetor adenoviral fabrica a sequência da proteína spike, que ajuda o coronavírus a adentrar nas células humanas. Isso faz com que o sistema imunológico “aprenda” a reconhecer o agente infeccioso.
O que os estudiosos desvendaram é que o modo como esse adenovírus se liga ao fator plaquetário 4 (PF4), um complexo de proteína, pode ser a causa por trás dos coágulos. A rara condição é conhecida como trombose com trombocitopenia (TTS).
Em casos muito excepcionais, o vetor viral pode entrar na corrente sanguínea e se ligar ao PF4, de modo que o sistema imune reconhece esse complexo como estranho. Então, são liberados anticorpos contra o próprio PF4, que se ligam e ativam plaquetas responsáveis pela coagulação sanguínea.
Para entenderem todo esse mecanismo, os pesquisadores usaram microscopia eletrônica e analisaram o adenovírus ChAdOx1, usado pela AstraZeneca no imunizante contra o novo coronavírus. Eles observaram todos os detalhes da estrutura, que é uma adaptação do vírus de chimpanzé Y25, e como ela reage com o PF4.
Em seguida, os cientistas criaram modelos computacionais para entender como interações eletrostáticas ligam o complexo ao vetor adenoviral. “Descobrimos que ChAdOx1 tem uma forte carga negativa. Isso significa que o vetor viral pode agir como um ímã e atrair proteínas com carga positiva oposta, como PF4”, explica Alexander Baker, líder do estudo, em comunicado.Os pesquisadores esperam que a descoberta ajude a criar novas vacinas que não gerem os coágulos. Baker supõe que, para evitar o efeito colateral, seja possível modificar ChAdOx1, reduzindo sua carga negativa. Ou ainda, projetar o capsídeo do vírus para impedir a interação indesejada.